segunda-feira, 5 de abril de 2010

Porque eu sempre acabo voltando aos contos...

Era mais uma daquelas manhãs gélidas de setembro, não sei bem ao certo o dia, mas estávamos em véspera da semana das provas bimestrais.
Ela tinha um pouco de dificuldade em matemática.
Paramos na padaria que tinha perto da minha casa, ela comentou que não entendia nada do que a professora falava, ofereci minha ajuda. Ela sorriu, me abraçou, senti meu corpo tremer, disse obrigada seguido de um 'eu te amo'. Nunca entendi direito essa coisa de 'eu te amo'. Afinal, tanto tempo trancada no meu mundo evitando qualquer sentimento, pra de repente ela chegar e bagunçar tudo, me fazer sentir diferente. Enfim, não estávamos muito animados para entrar no colégio aquele dia, já era tarde, tínhamos 5 minutos para entrar, mas faltavam uns 15 minutos de caminhada, era empenho demais correr. Comentei isso, ela parou, olhou para mim e perguntou:
-Que horas tua mãe sai de casa?
Respondi que em uns 20 minutos a casa estaria vazia, ela sorriu:
-Vamos para lá depois então!
Ok, iríamos para minha casa, eu faria café, ela amava café, e eu explicaria a matéria para ela.
Enquanto os 20 minutos não se passavam, sentamos no meio fio de uma rua meio deserta, era 7 e meia da manhã, as pessoas ou já tinham ido trabalhar, ou ainda estavam dormindo.
Os assuntos surgiam entre a gente, era incrível, não havia nem um minuto de silêncio.
Ela reclamou que estava com frio, ofereci meu casaco, ela não quis, peguei na sua mão, estava congelada, tirei meu casaco e o coloquei em torno dela. Percebi que ela me olhava enquanto eu fazia isso, sentei ao seu lado e a abracei, ela se aconchegou nos meus braços e finalmente houve um silêncio. Olhei para seu rosto, seus olhos estavam fechados e um sorriso tímido aparecia em seus lábios.
-Tá com sono? - perguntei.
-Não, mas eu pareço estar sonhando.
Fiquei confusa com aquela resposta, olhei no relógio, era hora de ir. Levantei e estendi minha mão à ela, ela segurou firme, sua mão não estava mais tão fria.
-Bem melhor assim, quente, né?
Ela riu, não me respondeu, nos enganchamos e fomos andando rumo à minha casa, era perto.
Chegamos na minha casa, largamos as bolsas no sofá e ela foi para o quarto da minha mãe, ligou a televisão e ficou lá, embaixo das cobertas enquanto eu fazia o café.
Terminei, peguei o café, algumas bolachas, o caderno e me deitei ao lado dela.
Comecei a explicar a matéria, mas por mais que eu visse que ela olhava pra mim, sabia que ela não estava prestando atenção nas coisas que eu estava falando.
Depois de um tempo perguntei o que estava acontecendo, o porque da falta de atenção dela. Ela baixou o rosto, disse que estava meio confusa ultimamente e voltou seu olhar para baixo.
Segurei seu rosto, levantei, sorri, estávamos perto demais sem nem perceber. Pelo segundo que nossos olhares se encontraram o mundo parou. Ela desviou o olhar de novo, disse:
-Não faz isso!
De novo eu não entendi, perguntei o porque, ela respirou fundo, olhou para mim novamente.
-Porque pode ser que eu não resista e faça isso...
Sua mão segurou minha nuca com força, ela me puxou e encostou seus lábios nos meus.
Ela se afastou, demorou para abrir os olhos, quando abriu, parecia envergonhada, pediu desculpas, eu estava parada, sem reação, não sei, mas acho que queria muito aquilo.
Ela levantou, eu fui atrás dela e a beijei, até hoje me pergunto o que me deu pra ter coragem de fazer isso.
Dos olhos dela surgiram lágrimas, ela sussurrava 'eu te amo' no meu ouvido.
-Eu também te amo, linda.
Talvez tenha sido a coisa mais simples, mais difícil, mais surreal, mais bonita e mais esperada coisa que eu já fiz na vida. Sentia-me tão leve, meu Deus, que sensação era aquela que me extasiava?
Ela segurou minha cabeça com as duas mãos e disse:
-Sabe quando você está a fim de um garoto e sente que você provavelmente vai querer ele até o fim da sua vida?
-Acho que sei.
-É exatamente o que eu sinto por você...
Hey, alguém quebra o interruptor da luz? Eu não quero acordar agora, quero sentir isso de novo, a presença dela.
-Eu estou tremendo, meu coração quer sair pela boca, sinto como se eu fosse a pessoa mais forte do mundo, sinto que quero te proteger, me sinto forte, me diz, o que foi que tu fez comigo?

Texto redigido ao fim da prova de WEB, ao som de Pitty, com 30 alunos gritando, história adaptada de fatos, situações e locais reais. 05/04/2010

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