segunda-feira, 24 de maio de 2010

Quando saiu do banho ainda sentia seu corpo tremer, tinha certeza de que nunca havia chorado tanto quanto naquele dia.
Sabia que tinha culpa, mas não era para acabar daquele jeito, não podia ser assim.
A angústia e a dor tomavam conta do seu ser, estava passando mal, mas não sabia exatamente o que era.
Abriu o guarda-roupas, última gaveta, dentro de uma lata, misturada a cartas e papeis de balas estava a carteira de cigarros.
Pegou-a, tinha prometido um tempo atrás que não fumaria mais. Mas estava perdida ali naquela hora, analgésicos e calmantes não estavam funcionando. Achou que a nicotina lhe faria bem, faria esquecer.
Acendeu um cigarro, ligou a televisão, deitou na cama, no seu lado da cama, abraçada ao travesseiro de Ruth deu uma longa tragada, na televisão passava algum noticiário, mas doia muito se mexer, qualquer movimento parecia que rasgaria seu corpo, as palavras não entravam na sua cabeça, ela tentava se concentrar em alguma outra coisa, mas absolutamente tudo lembrava algum daqueles momentos mágicos que elas passaram durante aqueles quatro anos que compartilhavam aquele sentimento doentio.
Já não aguentava disfarçar a dor com o silêncio, Mariana soltou todas as lágrimas que conteve até ali, soluçava, o travesseiro estava encharcado, os olhos inchados, o cigarro se apagou, tinha chegado ao filtro, largou a bituca no chão, desmaiou.

Eram quase nove horas da noite e Ruth estava a alguns quilômetros do apartamento, sentada em um bar de seu amigo, Flávio.
Já não sabia quantas doses já tinha tomado, no balcão seu copo só tinha gelo, o álcool estava tomando conta de seu psicológico. Estava conseguindo esquecer Mariana, ou pelo menos queria que estivesse conseguindo.
Flávio se negou a servir mais bebida, ele sabia do drama das duas e achava errado.
Ruth tinha viajado a negócios uma semana atrás, Mariana ficou na cidade, foi a uma festa, bebeu e acabou transando com um homem no qual nem o nome ela sabia.
Ruth ficou sabendo da história naquele dia, foi pra casa, fez com que Mariana falasse a verdade pra ela.
Pareceu mais doloroso ouvir da própria mulher da vida dela que ela tinha mesmo feito aquilo do que da boca de outra pessoa. Era humilhação demais, Ruth pegou uma mochila com algumas peças de roupas e foi rodar a cidade, dirigir lhe acalmava, acabou parando no bar de Flávio.
Estava confusa, porque Mari tinha feito aquilo com ela, se a anos trocaram voto de fidelidade?

Mariana namorava um rapaz antes de se apaixonar perdidamente por Ruth. A química foi tal que não foi preciso perguntas. Mesmo confusa com um sentimento novo por alguém tão inesperado, Mariana sabia que aquilo era o certo, que elas tinham nascido para se completarem. Ela não era lésbica, era apenas Mari que amava Ruth.

Ao contrário de Mari, Ruth era reservada, nunca teve muitos relacionamentos e os que teve levou-os a sério, tanto que ela nunca terminara com ninguém.
Nesse dia não foi preciso palavras. Se ela as tivesse encontrado ainda poderia dizer alguma coisa, mas ela não sabia nem o que fazer, quem dirá o que dizer.
Mari seguiu Ruth até o carro, falando, se desculpando, tentando explicar o que realmente tinha acontecido. Mas claro que de nada adiantou, Ruth não queria ouvir nada, e mesmo que quisesse, não conseguiria. Traição era o fim e isso foi sempre muito claro.

[Continua...]

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