domingo, 29 de agosto de 2010

Capítulo 11

Fer pegou uma muda de roupa, o seu material, iria direto para a aula no outro dia.
Saiu do quarto, sua mãe estava de pé ao lado da porta. Braços cruzados.
-Aonde você vai?
-Dormir na casa de uma amiga, não tem como ficar aqui hoje.
-Não tem porque você não quer.
-Não é isso mãe, você sabe muito bem disso, vocês preferem acreditar nas coisas que ele fala do que no que eu falo!
Ela não respondeu, Fer já com os olhos cheios de lágrimas saiu correndo dali, se sentiu muito fraca naquela hora, pensou em Jaque. Apostou que Jaque não choraria no lugar dela, engoliu o choro.
Na casa de Jaque a paz reinou naquele dia, elas passaram a tarde inteira jogadas no sofá assistindo filmes.
Fer se sentia bem agora, toda a sua dor tinha sido escondida, não tinha sumido, não havia passado, ela sabia que ainda existia, mas conseguia ali, ao lado de Jaque, fazer com que essa dor ficasse escondida embaixo de outros sentimentos, sentimentos esses que apenas Jaque a proporcionava.
O dia estava acabando, da varanda dava para ver o pôr-do-sol, Jaque levou Fer para vê-lo.
Elas se abraçaram em um silêncio assistido pelo laranja que tomara conta do céu.
Quando o sol dera lugar para a lua cheia mais brilhante daquele ano, os olhares mais uma vez se encontraram.
Jaque a beijou, Fer sentira suas pernas balançarem, era hora de entrar.
-Vou tomar um banho, quer vir junto dessa vez?
Não foi preciso resposta, Fer correu pegar seu pijama.
No banheiro as duas estavam tímidas, Fer talvez estivesse mais empolgada e sentira menos vergonha, beijou-a e levemente suas mãos passeavam por debaixo da camiseta de sua amada, sentia Jaque suspirar em seu ouvido, deixando-a arrepiada. Jogou as camisetas no chão.
A mão de Jaque agora contornava as curvas do corpo de Fer, não demorou a abrir o zíper da calça.
O vapor do chuveiro já tomava conta do banheiro todo, embaixo da água, suspiros se misturavam à arranhões e juras de amor.
Naquela noite, nada que pudesse acontecer, mudaria aquele sentimento.

sábado, 28 de agosto de 2010

Capítulo 10

Fer foi embora, o sábado demorou a passar.
Mas finalmente terminou.
No domingo de manhã o celular de Jaque tocou.
Ela atendeu sonolenta, tinha sonhado a noite toda, acordou com o celular tocando, mas acordou sorrindo.
No outro lado da linha era Fer, sua voz estava mais melosa do que o normal, Jaque estranhou.
Depois de um tempo entre conversas sobre assuntos aparentemente inúteis, Jaque não aguentou.
-O que está acontecendo contigo?
-Como assim o que está acontecendo comigo?
-Hey, eu posso ter passado apenas uma noite ao teu lado, posso não saber tudo sobre a sua vida, sobre o que tu passou, sobre o que tu viveu, sobre o que tu quer. Mas eu sinto que te conheço o suficiente já para sentir quando tem alguma coisa diferente contigo. E eu estou sentindo na sua voz que alguma coisa está errada.
Fer desmoronou, começou a chorar desesperadamente no telefone.
Jaque agora estava sem reação, não a queria chorando, mas sinceramente, não sabia o que fazer naquele momento.
-Calma amor, não chora, me conta, o que foi?
Engoliu o choro, tentou não soluçar, tentativa em vão, concentrou-se como quem precisa desarmar uma bomba.
-É o meu ex, ele veio aqui em casa ontem de noite, falou um monte para os meus pais, disse que eu era sapatão, que eles não mereciam ter uma filha como eu. Depois veio até meu quarto, me xingou, disse que eu sou vagabunda, que era bom eu não estar com ele mesmo, porque ele merece coisa melhor.
Jaque ficou meio paralizada, não sabia o que dizer para ela, mas sabia que Fer precisava dela. Antes que ela abrisse a boca para tentar falar algo tentando acalmá-la, Fer se adiantou.
-Desculpa estar te alugando com os meus problemas, mas eu precisava ouvir sua voz hoje, eu preciso do teu abraço, preciso entrelaçar nossos dedos. Parece que longe de você, me sinto à beira de um abismo. Você não precisa falar nada se tu não quiser ou não souber o que falar.
-Mas você me liga para ouvir minha voz e diz que não preciso falar nada?
As duas riram. Um riso tímido, um riso que parecia errado naquela hora, mas que talvez fosse um combustível, esse era um dos principais motivos de Fer ter se apaixonado por Jaque, a sua facilidade de lhe fazer rir.
A experiência da vida tinha ensinado à Jaque que as coisas por mais feias que estejam, não tirariam o sorriso de seu rosto. Teoria do Playmobil.
-Vem passar a noite aqui em casa hoje de novo. Eu imagino como deve estar foda o clima com seus pais, e ele não sabe onde eu moro, e mesmo que ele apareça aqui, eu acabo com ele.
Mais risadas.
-Eu vou, preciso de você de novo, na verdade, acho que eu vou falar essa frase todos os dias daqui pra frente. Preciso de você de novo.

domingo, 22 de agosto de 2010

Capítulo 9

Pela janela entrava um pequeno feixe de luz que batia diretamente nos olhos de Jaque.
Ela acordou, Fer estava deitava sobre seu ombro, os olhos fechados, parecia estar sonhando. Acariciava os cachos loiros, sentia que poderia passar os restos de seus dias acordando assim, com ela ao seu lado. Seu coração acelerara mais uma vez, era como se ele quisesse sair dali de dentro, para poder mostrar para o resto do mundo o quanto ele estava feliz.
O mundo poderia desabar lá fora, não iria importar.
Fer acordou, de leve se espreguiçou e ergueu seu olhar diretamente para o de Jaque. Seus olhos brilhavam. Fer sentiu a intensidade daquele momento, pareceu ter certeza de que era ela quem deveria esquentar suas noites e dizer as coisas que ela precisava ouvir.
Queria tanto falar isso pra ela naquela hora, mas não conseguiu falar nada, talvez Jaque tenha entendido o seu olhar, talvez ela não precisasse dizer nada, sabia que ela a entendia.
Elas se abraçaram.
-Bom dia.
-Maravilhoso dia, né? E olha que ele nem começou direito!
-Ah, foi maravilhoso poder sentir teu corpo perto de mim a noite toda, sonhei tanto com isso.
E realmente, as duas tinham imaginado uma noite como aquela à tempos.
Elas levantaram, Jaque foi para o banho.
-Posso ir com você?
Jaque riu, não respondeu.
-Ok, vai lá, eu faço o café.
Fer foi direto para a cozinha, revirou todos os armários, mas conseguiu achar tudo o que precisava.
Quando Jaque apareceu a mesa já estava posta e uma rosa roubada de um vaso no canto da sala estava posta no meio da mesa.
Por um momento aquela pareceu uma vida de casadas, parecia que elas se conheciam a anos, e que namoravam a muito tempo.
O cabelo de Jaque ainda úmido caía sobre seus olhos, Fer se aproximou, arrumou o cabelo de sua amada e devagar beijou seu rosto. Se Jaque estivesse se olhando no espelho naquela hora, ficaria até com vergonha da sua cara de idiota. Mesmo que amasse ficar com aquela cara de uns tempos pra cá.
Já não conseguia, talvez tivesse até esquecido como não sorrir, como tirar aquela expressão de sua cara.
Cada vez mais tinha certeza de que Fer seria seu porto seguro dali para frente.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Capítulo 8

As duas foram jantar ao lado da mãe de Jaque.
A conversa fluiu enquanto comiam e os repórteres falavam sozinhos na televisão.
Jaque agora se sentia como uma criança que ganhou a primeira bicicleta, seus olhos brilhavam pelo novo presente, mas ao mesmo tempo sentia uma certa insegurança, por mais que quisesse aprender a andar logo, tinha medo de cair e se machucar.
Terminaram, a mãe foi dormir, Jaque e Fer lavaram a louça e foram para o quarto.
-E ai, vai me contar quem era no celular?
-Tem certeza de que quer falar sobre isso?
-Se você não se sentir bem com isso, tudo bem, não precisa falar. -claro que ela queria muito saber quem era.
-Ah, era o meu ex. Ele tá correndo atrás de mim agora, como se tivesse se importado comigo quando estávamos juntos.
-Agora você tem a mim, e pode ter certeza que de todas as minhas preocupações, você está no topo da lista.
Elas sorriram, claro que Jaque não estava muito feliz com aquilo, queria ser a única lembrança, a única razão, a única preocupação de Fer, mas estava claro que não era, pelo menos não por enquanto.
Fer esquecia o mundo quando estava ao lado de Jaque, não entendia muito bem, mas ela tinha o poder de anestesiá-la, perto dela, tudo era lindo e tinha uma solução, as coisas faziam sentido.
Justamente por isso tinha desligado o celular naquela hora, não queria que ele estragasse o momento mais perfeito, talvez fosse a palavra certa para descrever aquela noite, mesmo que acreditasse que nenhuma palavra pudesse expressar exatamente o que estava sentindo.
Seu ex nunca a tratou como ela merecia, não a fazia se sentir especial, mesmo se ele tentasse, coisa que acontecia muito pouco, diria até que quase nunca, durante todos os anos que se conheciam, a bajulava apenas quando não estavam juntos, quando isso acontecia, ela até sabia se passar por um cavalheiro. Era o contrário de Jaque.
Só de existir, só de tentar disfarçar o olhar do outro lado da rua Jaque já dava sentido à vida, já a fazia se sentir especial. Naquela noite, se sentia a garota mais feliz do mundo, a mais forte e nada nem ninguém poderia tirar essa sensação dela naquele momento.
As duas se deitaram, seus corpos estavam envoltos de carinho e amor. As mãos passeavam carinhosamente entre os rostos, seus olhares suplicavam por mais, elas se abraçaram, de conchinha.
Sorriam, sonhavam, aquela noite seria lembrada para o resto de suas vidas.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Capítulo 7

As duas foram até a cozinha, Fer se ofereceu para ajudar, mas Jaque negou, dizendo que queria que ela provasse sua comida.

Cozinhar era uma das coisas que mais deixava Jaque relaxada, isso a fazia esquecer dos problemas, parar de pensar na vida e ir para um outro mundo, o mundo dela.

Enquanto a comida fervia no fogão as duas conversavam, em determinado momento Jaque estava fazendo muitas coisas ao mesmo tempo, Fer foi ficar ao lado da mãe de Jaque.

Após terminar a comida e arrumar a mesa, se escorou na parede e ficou olhando para as duas mulheres da sua vida. Fer estava segurando a mão de sua mãe, que estava sorrindo. Ela também sorriu, talvez tenha sido a melhor coisa que aconteceu na vida dela Fer ter aparecido e a atitude mais sensata da sua vida ter atravessado a rua.

Sua mãe a viu encostada na parede e a chamou para perto, Jaque a abraçou. Estava tudo de acordo com os seus mais lindos sonhos.

-Vamos comer?

-Ah, estou morrendo de fome! – respondeu Fer.

Elas se dirigiram até a cozinha, a mãe de Jaque não conseguia levantar, então ela preparava o prato e levava para ela na sala ou no quarto, dependendo de onde ela estava.

Na cozinha elas se serviam uma ao lado da outra.

-Vou ver agora se você já pode casar.

-Ai que medo!

Riram, se olharam, se beijaram.

O celular de Fer tocou, ao ver quem era fez uma cara de desprezo e ignorou a chamada.

-Não vai atender?

-Melhor não, deixa essa noite ser perfeita.

Jaque mesmo sem entender gostou da história de “noite perfeita”.

O celular tocou mais uma vez, ela ignorou a chamada mais uma vez e digitou uma mensagem rápida. Desligou o celular.

Sorriu para Jaque, que não se conformou apenas com aquele sorriso..

-Quem era?

-Ninguém importante.

-Seu namorado? – Jaque estava morrendo de ciúmes e não conseguia mais esconder.

-Eu não tenho mais namorado, eu não quero mais ele. Depois eu te explico direito, vamos lá que sua mãe está com fome.

Jaque gostava desse jeito meio mandão de ser da Fer.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Capítulo 6

O beijo só acabou quando um carro buzinou na frente delas, tentando entrar no estacionamento.

Elas se olharam, lágrimas secavam em meio a sorrisos inconscientes de ambas.

-O que você vai fazer essa noite?- perguntou Fer.

-Preciso ir para casa.

-Mas em plena sexta-feira? Você não vai sair para lugar nenhum?

-Eu tenho que cuidar da minha mãe, ela está doente e precisa de mim.

-Ah, eu queria ficar perto de ti essa noite, eu poderia ir até a sua casa! Posso?

Jaque agora tinha ficado confusa, nunca tinha levado uma menina para sua casa, principalmente com a mãe dela de cama, mas precisava passar mais tempo ao lado de sua menina, que finalmente tinha se tornado sua.

-Claro, pode ir sim.

Aquele dia as duas pegaram o mesmo ônibus, no mesmo lado da rua.

Não houve beijos pelo caminho, as duas estavam com vergonha.

Passaram o tempo todo conversando sobre o presente de ambas.

Jaque contava dos problemas de sua mãe, Fer do problema com seu ex.

A mãe de Jaque tinha adoecido no ano anterior, estava com câncer de pulmão e tinha descoberto já com certa idade, o que dificultava a recuperação, Jaque estava desempregada no momento, elas viviam da aposentadoria de sua mãe e com a ajuda de uma tia que cuidava dela enquanto Jaque ia estudar.

Fer conhecia o seu ex desde que eram crianças, ele sempre quis namorá-la, mas ela não sentia nada por ele. Alguns meses antes daquele dia, ela estava se sentindo sozinha, seus pais nunca se importaram muito para ela e o seu namorado tinha ido morar em outro estado, acabou cedendo à ele. Não queria ficar sozinha e esperava que fosse aprender a amar ele com o passar do tempo.

-Mas você apareceu e eu percebi que eu não poderia aprender a amar alguém, sendo que do outro lado da rua estava a garota que tomava conta dos meus pensamentos.

Depois disso Jaque ficou com vergonha, mas conseguiu responder.

-Eu não conseguia mais pensar em mim, nos meus sentimentos e nas coisas que importavam pra mim antes de te ver ali do outro lado.

Elas se abraçaram. Corações acelerados, mãos trêmulas e corpos nas nuvens.

Chegaram na casa de Jaque, que apresentou Fer como sua amiga para sua mãe.

Jaque se apaixonou ainda mais ao ver Fer conversando com sua mãe, tinha tal delicadeza, tanto carinho, passava tanta esperança para sua mãe, era linda.

Foram ao quarto de Jaque, Fer largou seu fichário na escrivaninha, Jaque jogou sua mochila no chão.

As duas sentaram na cama, uma do lado da outra, deram as mãos.

-Sua mãe é um amor. Adorei ela.

-Ela te adorou também, tenho certeza. Aliás, isso não é muito difícil, né?

Fer ficou sem jeito, as duas riram.

Jaque colocou um CD, começou a tocar More Than Words (Extreme), ela chegou perto de Fer, acariciou seu rosto e a beijou.

A música acabou, elas pararam, Jaque apoiou sua testa na da sua amada.

-Vamos fazer o jantar?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Capítulo 5

Parecia que tudo tinha voltado ao que era antes de ter atravessado a rua naquela noite.
Conseguiu dormir rápido, seu coração estava reclamando, mas ela conseguiu ignorá-lo mais uma vez, se ele não tinha se acostumado com a dor ainda, ela tinha.
No dia seguinte não conseguia se concentrar na aula, assistiu as duas primeiras e saiu da sala.Deitou em um banco lá fora, esperaria o treino daquele dia, nada melhor para aliviar tudo que sentia. Tudo.
Ficou poucas horas ali, deitada, mas pareceram décadas, pensamentos rodeavam sua cabeça, estava decidida a não ficar no ponto aquele dia.
O treino começou, havia muita gente na arquibancada, assistindo, conseguiu reconhecer algumas pessoas, eram de outra turma, imaginou que estavam sem aquela aula e com preguiça de ir para casa, ou algo assim.
Para não pensar besteira tinha que manter ocupada sua cabeça, nem que fosse com assuntos idiotas.
O treino terminou, não iria tomar banho, comprou uma garrafa de água e foi andando para a saída.Enquanto saía, ouviu alguém correndo, olhou para trás.
Não acreditou no que viu, o fichário rosa brilhando contra o sol, não podia ser, deveria estar sonhando.Ficou parada, enquanto os loiros cachos balançavam em sua direção.
Ela chegou perto, talvez perto demais, mais uma vez o coração de Jaque estava querendo sair, dessa vez, o corpo inteiro dela tremia.
Mais uma vez ninguém falou nada.
Fer alternava seu olhar entre a boca e os olhos de Jaque, sua feição parecia assustada.
Se aproximou mais, segurou a nuca de Jaque com uma mão enquanto a outra segurava o fichário. Com a boca entre-aberta puxou Jaque para mais perto dela. Beijou-a.
As duas tremiam, o time estava todo parado, olhando a cena.
Foi só um selinho, Fer logo a soltou e se afastou.
-Desculpa, por isso, por ontem. Eu estou confusa, mas acho que você é quem deveria estar aqui do meu lado, o teu nome é que deveria estar gravado na minha aliança,- Jaque olhou para o seu dedo, nele agora só havia a marca daquela aliança desgastada.- você é quem deveria velar o meu sono, não ele.
Naquele momento todas as palavras que Jaque já tinha pensado em dizer, que já tinha escrito e que gostaria de dizer tinham sumido. Parecia parada na mesma posição desde a hora que virou para trás, queria dizer que precisava fazer tudo isso que ela tinha dito, que precisava dela pra viver dali em diante, que a amava, mas tudo isso pareceu tão difícil naquele momento, que permaneceu calada.
-Ah meu Deus, não era isso que você queria, né? Ah, me desculpa.
Fer saiu correndo, esbarrando seu ombro de leve no ombro de Jaque. Parou só quando chegou na calçada, para atravessar a rua, olhou para trás rapidamente. Jaque já estava vindo atrás, segurou o braço de Fer.
-Você me deixou sem reação, tudo que eu mais quero na minha vida agora é que você faça parte e dê algum sentido para ela, eu não quero que você atravesse essa rua agora, eu quero você do meu lado.
As lágrimas que escorriam pelo rosto de Fer agora caíam no mesmo ombro em que esbarrou, sentiu-se tão protegida envolvida pelos braços de Jaque.
Dessa vez, o beijo foi mais intenso e mais demorado.

Capítulo 4

Aquela noite talvez tenha sido a mais fácil de todas desde que sua mãe tinha adoecido.
Se sentia mal por sua mãe, claro, mas agora, depois de tanto tempo, conseguia sorrir de novo. Com tal bom-humor conseguiu fazer também sua mãe sorrir.
Pegar no sono que foi o desafio, deitou em sua cama e ficou olhando para o teto, a imagem dela não saia de sua cabeça. Deitou de bruços, finalmente conseguiu dormir. Já passara das 3 da manhã.
Amanheceu. Era terça-feira. Não teria treino aquele dia, apenas aula.
Parecia destino, quando sua aula terminava antes do horário que Fer chegava no ponto do ônibus, ela tinha futebol e saia no mesmo horário dos dias que tinha aula, encontrando a sua menina lá, do outro lado da rua, talvez agora não mais do outro lado.
As horas aquele dia se arrastavam, não via a hora de sair, poder vê-la e melhor, dessa vez, falar com ela.
Finalmente podia sair, foi correndo até a rua.
Ao chegar no seu ponto, reparou que do outro lado tinha um rapaz, o que era estranho, o ponto sempre estava vazio até Fer e seus colegas chegarem, ficou meio em dúvida, não atravessou.
Sentou no banco, suas colegas chegaram e Jaque puxou assunto.
Viu Fer e seus colegas chegarem. Continuou do seu lado da rua, conversando, mas acompanhando ela com o olhar.
Fer não tinha olhado para o outro lado da rua nenhuma vez, ou olhava para baixo, ou para frente.
Olhou mais uma vez para o rapaz, ele estava olhando para Fer, esperando ela chegar até ele.
Não, não podia ser.
Sua menina chegou perto do rapaz, ele lhe beijou.
Jaque poderia jurar que ouviu seu coração se despedaçar naquele momento.
Ao vê-los abraçados, reparou que Fer olhava para ela fixamente, uma lágrima escorreu daqueles olhos que tinha sonhado a noite toda.
Não conseguiu esconder o espanto e a decepção. O moreno atravessou a rua.
-Oi, tudo bem?
-É pra responder mesmo?
Não precisou, como um velho amigo que quer consolar o moreno lhe abraçou, ela apertou-o com força, de seus olhos também caíram lágrimas.
-Você não disse que eles estavam com problemas?
-E eles estavam, eu não sei o que aconteceu, o que está acontecendo, me desculpa.
Ao mesmo tempo que queria matá-lo, Jaque era grata à ele, não teria conseguido nenhum sorriso se não fosse por ele.
-Você não tem porque se desculpar, talvez eu esteja equivocada, talvez ela goste dele mais do que eu gosto dela.
-Hey, não fala isso, você ainda nem teve chance de dizer pra ela o que você sente. Não desista de lutar por ela só porque você viu essa cena, não é justo nem contigo, nem com ela.
-Acho que você está certo, mas hoje eu não atravessarei a rua.
O menino entendeu, se despediu e voltou para os amigos.
Era engraçado, Jaque não sabia ainda o nome do garoto, mas tinha por ele tamanho respeito e gratidão que poderia ser amiga dele para sempre.
Naquele dia, Jaque pegou o primeiro ônibus que passou, deixando sua menina do outro lado da rua, com seu mais novo inimigo.
Dentro do ônibus, os olhares se seguiram.
Mais uma vez o play no aleatório e a música daquele dia era N, Nando Reis e sua triste melodia, não poderia ser mais perfeito para aquele momento.
Naquela noite, não houve sorrisos.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Capítulo 3

-Falar comigo? Sobre?
Será que ela realmente não tinha entendido?
-Eu não sei, mas por algum motivo, se eu ficar um dia sem te ver aqui, no ponto, do outro lado da rua, eu não consigo sorrir até te ver de novo, eu sonho contigo, seja dormindo ou acordada. Eu simplesmente não podia mais sorrir sem ouvir a tua voz.
Dessa vez o silêncio foi mais tenso. Jaque estava ficando louca com a espera da resposta.
-Eh, eu não me apresentei, meu nome é Fernanda, mas pode me chamar de Fer.- falou sorrindo, um sorriso tímido, sem graça, mas ao mesmo tempo feliz e lindo, fazia Jaque sonhar.
-Prazer, muito prazer.- enfatizou o muito com certo exagero até, mas estava idealizando a conversa que vinha sonhando a meses.
-Você vai ir comigo pro lado contrário à sua casa mesmo? Ou a gente vai se ver aqui de novo amanhã?- Jaque estava louca para continuar ali, do lado dela, sentindo seu perfume, olhando naqueles olhos, mas tinha que ir pra casa, precisava cuidar de sua mãe.
-Meu ônibus já está chegando, não tem problema se você não for comigo, nós temos todos os dias do resto do ano para conversar aqui.
Ai meu Deus, ela disse mesmo isso? Os olhos de Jaque brilhavam.
-Ok, então a gente se vê aqui amanhã, preciso cuidar da minha mãe.
Sorrisos e mais sorrisos.
O ônibus estava chegando, Fer fez sinal, antes que o ônibus parasse passou a mão pelo rosto de Jaque.
Jaque ficou paralizada mais uma vez, completamente sem ação.
Ao subir no ônibus, Fer disse obrigada.
Obrigada? Agora não tinha entendido nada. Obrigada pelo que? Não tinha feito nada, não pode nem abraçá-la.
Estava confusa, muito confusa. Lembrou das palavras do menino, namorado, ela tinha um namorado. Devia respeitar isso.
Agora, tudo que ela tinha a fazer era se tornar amiga da Fer, estava tão feliz por finalmente saber o nome dela, não poderia tentar ter um relacionamento com ela agora, mas só de estar perto dela já ficava feliz, começou a desconfiar que realmente iria precisar falar com ela direto.
Foi para o seu lado da rua, mesmo agora considerando que o lado certo da rua para ela, era aquele. Já havia perdido vários ônibus, o próximo provavelmente demoraria para vir. Mas não importava, pegou seu fone, deu play no modo aleatório. A primeira música a tocar foi Luz dos Olhos, decidiu então, que a partir daquele momento a história das duas teria uma trilha sonora, naquele dia, a música foi interpretada por Cássia Eller, claro que ela não fazia a mínima ideia de que tipo de música sua garota escutava, ela também não sabia que era a "sua garota", mas gostava de como isso soava e continuaria pensando nela assim, mesmo que ela não quisesse.
O ônibus chegou e ela finalmente pode ir para casa, havia bancos vagos, sentou em um daqueles sozinhos, apoiou a cabeça na janela, olhava para o asfalto, olhos brilhando, a música tocando, a imagem da troca de olhares não saia de sua cabeça, ficou indagando se Fer também estaria assim, se também se lembraria dela nem que fosse por um minuto, pensava também no "obrigada". Claro que se pudesse, se tivesse coragem, também agradeceria ela, porque agora, se ela estava com "cara de idiota", sorrindo à toa, devia isso à ela, mas será que o obrigada dela teve o mesmo sentido que o seu teria se o tivesse dito?
Seu coração finalmente se acalmou um pouco, ainda batia forte, mas agora batia apenas pela lembrança. Não só o coração, seu mundo agora se movia pela lembrança.

Capítulo 2

Ficou sentada, agora parecia estar ainda mais nervosa, nem tinha chego perto dela ainda.
A menina virou o rosto em sua direção, arrumou o cabelo, Jaque pode ver a aliança desgastada em seu dedo. Ela também parecia nervosa, ainda não tinha olhado em seus olhos, não deu tempo, a loira logo virou de volta, estava conversando com mais duas meninas. O que provavelmente tinha sido a desculpa que Jaque estava usando para si mesma para o fato de ainda não ter levantado e dito um oi qualquer.
O ônibus estava se aproximando, os colegas da menina começaram a fazer uma espécie de fila para entrar.
Jaque estava com a passagem na mão, continuava sentada, observando ela, que procurava quase histéricamente pela passagem, não a achava, sentou ao lado de Jaque, mas sem dar atenção à ela.
Deu para sentir o perfume do creme mais uma vez, agora sim teve certeza de que o coração pularia para fora de vez.
Ela sussurrava algumas palavras de raiva. Não dava para entender.
Todo mundo já tinha entrado no ônibus.
Menos as duas, uma revirava a bolsa e a outra estava paralisada.
O motorista já estava reclamando, o moreno estava na porta, ao ver as duas ali mandou o motorista ir que elas pegariam o próximo ônibus, já que ele não demorava.
O motorista fechou a porta e arrancou.
Fer levantou e tentou correr atrás do ônibus, em vão, sua bolsa caiu no chão e a alça enroscou no seu salto agulha.
Jaque riu, tinha entendido, e achou lindo o jeito com que ela ria de si mesma.
As duas se abaixaram na mesma hora para juntar as coisas que tinham caido da bolsa, as mãos se tocaram. Fer logo a recuou, olhou para baixo.
Jaque olhava agora fixamente para ela, sabendo que Jaque olhava para ela, ergueu lentamente os olhos.
Pela primeira vez as duas tinham se olhado nos olhos. O tempo pareceu parar naquele instante, não ouviam nada, não sentiam nada, não sabiam de mais nada.
As duas não saberiam dizer por quanto tempo ficaram naquela posição, somente se olhando, diretamente no fundo dos olhos.
Fer finalmente sorriu, Jaque logo respondeu, desviaram o olhar, ainda com o sorriso no rosto, nenhuma palavra até ali.
Terminaram de juntar as coisas, levantaram ao mesmo tempo, as duas seguravam a bolsa e mais uma vez os olhares se encontraram.
Silêncio mais uma vez.
-Meu nome é Jaqueline, mas tu pode me chamar de Jaque, se quiser.
-Você não pega ônibus do outro lado?
-Pego.
Silêncio de novo.
Dessa vez não por muito tempo, Jaque logo riu.
-Eu só vim aqui para, na verdade eu não sei porque eu vim aqui, mas eu precisava falar contigo.
Silêncio mais uma vez.

Capítulo 1

Jaque saiu do seu treino correndo, não esperou as outras meninas, estava com pressa, já estava quase atrasada, foi ao vestiário e tomou uma ducha rápida. Se arrumou e foi sentar naquele banco que sentava todos os dias só pra ver ela saindo da faculdade, segurando seu fichário rosa entre os braços com tamanha delicadeza, sorrindo com seus colegas.
Era o que fazia sentido pra ela naquele momento, ver aquele anjo sem asas passar. Sua vida tinha se tornado um inferno e ela só queria voltar a sorrir.
Não tinha certeza se aquela linda menina sabia de sua existência, mas necessitava vê-la, sonhava com elas de mãos dadas, passeando em um parque qualquer, como quem não precisa se preocupar com mais nada porque tinham uma à outra.
Naquele dia, Jaque ficou olhando fixamente para ela. Sorria. A menina olhou pra ela por um instante, abaixou a cabeça como quem evita algo. O sorriso sumiu.
Jaque não entendeu, nunca tinha falado com ela, mas achava que ela era a mulher de seus sonhos.
Continuou seguindo-a com o olhar, ela e seus colegas pararam no ponto de ônibus do outro lado da rua.
Jaque naquele momento, inconscientemente, tomou uma coragem que não saberia dizer depois de onde surgiu e foi até o outro lado da rua.
Chegando lá, seu coração estava tão rápido que achou que teria um taquicardia.
Não sabia se era paranóia, mas todos parecia quietos e olhando para ela, menos a menina.
Estava olhando o cabelo dela, agora de perto, meu Deus, era lindo, os cachos loiros pareciam que tinham vida própria, o brilho era fantástico e de longe dava para sentir o cheiro de frutas do creme para pentear.
O banquinho do ponto estava vazio, Jaque sentou, ansiando para que a menina dos seus sonhos sentasse do seu lado.
Expectativa em vão, ao seu lado sentou um amigo dela, um jovem, não deveria ter mais de 19 anos, moreno, alto e com um sorriso contagiante. Sem tirar o sorriso do rosto, olhou para Jaque e disse oi. Jaque ficou meio confusa, estava prestando atenção na sua menina e não esperava que alguém fosse falar com ela.
Virou para ele e deu um oi com um tom de interrogação. O moço estava com vontade de soltar gargalhadas, isso era visível, mas estava se controlando. Perguntou:
-O que te trás ao lado contrário o qual você pega o ônibus?
Aquela pergunta veio para Jaque como uma facada no peito. Será que ele sabia? Se sabia, como sabia? Era tão óbvio assim? Não, não poderia ser.
Ela ficou com a boca aberta procurando uma resposta, mas nada veio, quando tentou soltar algumas palavras aleatórias, ele a interrompeu.
-Não precisa falar, eu sei. Estou aqui justamente por isso.
-Como você sabe? -Jaque estava mais confusa ainda e seu coração batia mais rápido.
-Ficou meio óbvio, eu vi o jeito que você olha para a Fer- ele apontou para a loira- e estou meio a fim de te ajudar.
-Me ajudar? Como? -Porque ele a ajudaria? Nunca tinha a visto mais gorda.
-Eu sou amigo dela, e ela está com problemas com o namorado.
-Namorado? -Quase gritou, estava surpresa e decepcionada ao mesmo tempo.
-É, mas como eu disse, ela está com problemas com ele e já teve um relacionamento com uma menina, são dois pontos para você.
-E como você vai me ajudar?
-Já te ajudei muito, mas vou fechar minha ajuda com chave de ouro -ele fez uma pausa que pareceu uma eternidade- ela já perguntou se alguém de nós conhecíamos você e ela já te viu jogando, me pareceu um pouco "boba", se é que tu me entende.
Jaque soltou uma risadinha, era tudo que ela precisava, ignorando o fato de que morria de vergonha e tinha medo de levar um não. Agora estava disposta a pegar o mesmo ônibus que eles e ir para o lado contrário só para tentar conversar com ela.
O menino levantou, não disse mais nada e piscou para ela, voltou a falar com umas pessoas que estavam ali.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Um dia acreditávamos que Papai Noel existia, que ele andava num trenó e de fato só dava presente para as crianças que se comportavam.
Acreditávamos na Fada dos Dentes, e toda vez que um dente caía, ansiávamos a noite toda para que de manhã o dente tivesse sido trocado por alguns trocados.
Achávamos que o Coelhinho da Páscoa entrava em nossas casas e deixava os ovos de chocolate, comia a cenoura que deixávamos para ele e ia embora.
Também tínhamos medo do bicho-papão, ele estava sempre embaixo da cama ou dentro do guarda-roupas.
Sabíamos de onde vinham os bebês: das cegonhas que traziam eles enrolados em um pano branco preso a seus bicos.
Escutávamos contos de fadas, e achávamos que aquilo poderia vir a acontecer quando crescêssemos, não fazíamos a mínima ideia do que era o amor e mesmo assim sonhávamos com ele.
Os anos vão passando, a gente vai crescendo, achando que está grande e vamos deixando de acreditar em todas essas coisas.
Sabemos que os presentes de Natal e os ovos da Páscoa são coisas de nossos pais, não temos mais dentes de leite para colocar embaixo do travesseiro, aprendemos na escola como os bebês são feitos, deixamos de ter medo do bicho-papão e passamos a ter medo de pessoas.
E muitas vezes, descobrimos que o amor não tem nada a ver com o que foi dito naqueles contos de fadas.
E geralmente estamos brigando com nossos pais. Hey, você já parou alguma vez na vida para agradecer à eles por terem alimentado sua fantasia?
Eles fizeram tudo isso pensando no teu bem, tentando de proteger de um mundo injusto e vingativo que vivemos, e você chama isso de criancisse?
Não perca nenhuma oportunidade de dizer para eles o quanto você é grato por eles terem feito o melhor que podiam para você crescer forte, saudável e inteligente.
Dê motivos para que eles possam se orgulhar de você, mas nunca esqueça de ser exatamente quem você é.