quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Capítulo 4

Aquela noite talvez tenha sido a mais fácil de todas desde que sua mãe tinha adoecido.
Se sentia mal por sua mãe, claro, mas agora, depois de tanto tempo, conseguia sorrir de novo. Com tal bom-humor conseguiu fazer também sua mãe sorrir.
Pegar no sono que foi o desafio, deitou em sua cama e ficou olhando para o teto, a imagem dela não saia de sua cabeça. Deitou de bruços, finalmente conseguiu dormir. Já passara das 3 da manhã.
Amanheceu. Era terça-feira. Não teria treino aquele dia, apenas aula.
Parecia destino, quando sua aula terminava antes do horário que Fer chegava no ponto do ônibus, ela tinha futebol e saia no mesmo horário dos dias que tinha aula, encontrando a sua menina lá, do outro lado da rua, talvez agora não mais do outro lado.
As horas aquele dia se arrastavam, não via a hora de sair, poder vê-la e melhor, dessa vez, falar com ela.
Finalmente podia sair, foi correndo até a rua.
Ao chegar no seu ponto, reparou que do outro lado tinha um rapaz, o que era estranho, o ponto sempre estava vazio até Fer e seus colegas chegarem, ficou meio em dúvida, não atravessou.
Sentou no banco, suas colegas chegaram e Jaque puxou assunto.
Viu Fer e seus colegas chegarem. Continuou do seu lado da rua, conversando, mas acompanhando ela com o olhar.
Fer não tinha olhado para o outro lado da rua nenhuma vez, ou olhava para baixo, ou para frente.
Olhou mais uma vez para o rapaz, ele estava olhando para Fer, esperando ela chegar até ele.
Não, não podia ser.
Sua menina chegou perto do rapaz, ele lhe beijou.
Jaque poderia jurar que ouviu seu coração se despedaçar naquele momento.
Ao vê-los abraçados, reparou que Fer olhava para ela fixamente, uma lágrima escorreu daqueles olhos que tinha sonhado a noite toda.
Não conseguiu esconder o espanto e a decepção. O moreno atravessou a rua.
-Oi, tudo bem?
-É pra responder mesmo?
Não precisou, como um velho amigo que quer consolar o moreno lhe abraçou, ela apertou-o com força, de seus olhos também caíram lágrimas.
-Você não disse que eles estavam com problemas?
-E eles estavam, eu não sei o que aconteceu, o que está acontecendo, me desculpa.
Ao mesmo tempo que queria matá-lo, Jaque era grata à ele, não teria conseguido nenhum sorriso se não fosse por ele.
-Você não tem porque se desculpar, talvez eu esteja equivocada, talvez ela goste dele mais do que eu gosto dela.
-Hey, não fala isso, você ainda nem teve chance de dizer pra ela o que você sente. Não desista de lutar por ela só porque você viu essa cena, não é justo nem contigo, nem com ela.
-Acho que você está certo, mas hoje eu não atravessarei a rua.
O menino entendeu, se despediu e voltou para os amigos.
Era engraçado, Jaque não sabia ainda o nome do garoto, mas tinha por ele tamanho respeito e gratidão que poderia ser amiga dele para sempre.
Naquele dia, Jaque pegou o primeiro ônibus que passou, deixando sua menina do outro lado da rua, com seu mais novo inimigo.
Dentro do ônibus, os olhares se seguiram.
Mais uma vez o play no aleatório e a música daquele dia era N, Nando Reis e sua triste melodia, não poderia ser mais perfeito para aquele momento.
Naquela noite, não houve sorrisos.

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