sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Capítulo 12

Elas finalmente saíram do box, o banheiro estava tomado pelo vapor.
Ambas pareciam agora estar com vergonha, uma vergonha disfarçada pela sensação de desejo cumprido, pela sensação de que nada tiraria aquilo delas.
Vestiram-se e foram para a sala assistir televisão.
Sentaram no sofá, um pouco mais a frente, naquelas cadeiras que inclinam estava a mãe de Jaque.
Fer sem desgrudar os olhos da televisão foi passeando sua mão em direção à mão de Jaque entre pequenos intervalos de hesitação, as mãos se encontraram.
Jaque virou sua cabeça rapidamente para Fer, não saberia dizer se aquilo foi por ansiedade, por medo, se tinha se assustado ou se fora apenas um reflexo. Mas sua amada estava de olhos fechados com a cabeça ainda imóvel em direção à televisão.
Jaque passou seu polegar pela mão de Fer, que lentamente abriu os olhos e virou a cabeça.
Mais uma vez o mundo parou naquele dia. Os olhares encontrados fizeram surgir um sorriso, Fer deitou sua cabeça no ombro de Jaque.
-Já está muito tarde, vou dormir e deixar vocês aqui, minhas filhas.
Fer sentiu ali um carinho por parte da mãe de Jaque que desejara ter recebido durante toda a sua vida, talvez sem saber direito que eram de simples palavras como essa que precisara para se sentir amada.
Elas ficaram ali, sentadas, imóveis por mais um tempo, olhavam para a televisão, mas suas mentes não conseguiriam focar-se em nada que aquele aparelho eletrônico falasse. Seus pensamentos tinham apenas uma direção, e essa direção era a mesma, a alegria, a ansiedade, a felicidade, a sensação de descoberta de algo novo, o desejo, o carinho, o amor.
Fer acabou cochilando ali. Jaque levantou com cuidado e foi arrumar a cama. Voltou para a sala e pegou Fer no colo, levando-a até seu quarto. Fer parecia um anjo dormindo, sua feição transmitira paz e tranquilidade, mesmo que Jaque soubesse o que estava acontecendo, era aquilo que sentia ao olhar para a pele macia de Fer.
Os dias passaram perfeitos, completos e repletos de cumplicidade. O ex namorado de Fer não aparecera durante aquele tempo. Por mais que Fer agradecesse por aquilo, achava estranho.
Era uma sexta-feira, Fer estava assistindo Jaque treinar, elas iriam pra um barzinho do centro da cidade junto com os novos amigos. As duas sorriam, trocavam olhares apaixonados.
O treino acabou, elas foram até o vestiário, Jaque tomou um banho enquanto Fer se maquiava, quando estavam finalmente prontas e quase saindo dali, Fer sentiu uma pontada no coração. Jaque perguntou se estava tudo bem, Fer fixou seus olhos nos olhos dela e com lágrimas nos olhos afirmou mais uma vez naquele dia o quanto a amava, sem entender Jaque trocou juras de amor ali, na porta do vestiário.
Foram até o ponto de ônibus, o mesmo em que se conheceram, que se apaixonaram.
Parado de pé estava um cara com um capuz preto e óculos escuro, ele olhava para baixo e tinha as mãos inquietas dentro dos bolsos, ele parecia nervoso, dava para ver o suor em sua testa.
Fer abraçou Jaque forte, a agonia estava clara. Jaque a confortou.
O rapaz cochichava algo inaudível. Do outro lado da rua aproximava-se um casal, passos lentos, tranquilos.
O rapaz derrepente virou para elas e encarou Fer, que logo o reconheceu.
Ele agora gritava com apenas uma mão dento do bolso.
-Como você pode me deixar sozinho? Você nunca se importou para o que eu sentia? Vadia!
Jaque fez menção de responder, mas Fer se intrometeu.
-O que você está fazendo aqui? Não falei para você sumir da minha vida?
-Sua mãe está preocupada contigo, eu também, eu te amo, eu preciso de você, volta pra mim!
Jaque empurrou Fer para trás dela, e ao abrir a boca para falar, o rapaz tirou a sua mão do bolso, junto com ela uma arma prateada, o cano brilhava.
Fer se desesperou, o casal que estava chegando ali tinha chamado a polícia e tentava gritar palavras que convencessem o rapaz a se acalmar. Em vão.

-O que você está fazendo? Larga isso!
-Só se você voltar pra mim!
-Não, você tem que entender...
-Não quero entender porra nenhuma, se você não for minha, não vai ser de mais ninguém!
Ele apontou a arma para Fer e destravou a arma.
Puxou o gatilho.
Jaque empurrou Fer e a bala entrou no lado esquerdo de seu peito.
Sirene.
Gritos.
Silêncio.
Escuridão.


FIM