sábado, 26 de março de 2011

Eu sempre ouvi todo mundo dizer que antes de morrer, um pequeno filme sobre a sua vida passava diante de seus olhos em um segundo. Bem, não foi bem assim comigo.
Quando eu a conheci senti aquelas coisas estranhas do primeiro amor, frios na barriga, nervosismo, perdia a razão quando ela chegava perto de mim, quando me tocava então, eu me sentia flutuar, era algo tão mágico, tão surreal, tão nosso.
No fundo eu sabia que se ela não sentia o mesmo, era algo muito parecido, ela precisava de mim perto dela e eu ainda mais, precisava de seu bom dia para conseguir passar o dia com vontade de viver.
A nossa amizade foi evoluindo com o tempo, nos tornávamos cada vez mais próximas.
Um dia eu estava contando uma das minhas histórias para ela, era uma tarde fria, ela usava um lindo cachecol branco que contrastava o verde de seus olhos que estavam ainda mais verdes naquela tarde, ela fixou seu olhar no meu, eu ri, ela continuou com seu semblante sério, os olhos ainda fixos, parei de rir já preocupada, "está tudo bem?" perguntei, ela deu um sorriso tímido, de canto de boca, chegou mais perto de mim, sentou bem ao meu lado, desviou o olhar para baixo.
"Você já amou alguém?", não entendi muito bem aquela pergunta, mas ora, era tão simples, não, eu entendi sim, só não sabia responder e tinha certa vergonha disso. Ela continuou "Porque eu não sei, se eu nunca amei alguém como é que eu vou saber que é amor quando eu o encontrar pela primeira vez?". Quis falar que também pensava nisso, que também tinha medo de perceber que era amor tarde demais, ou de não perceber, mas não falei isso. "A gente simplesmente sabe quando é amor, não tem muito o que se explicar, acho que deve ser diferente para cada um.".
Ela voltou o olhar para mim, o meu que se encontrava num horizonte imaginário quis desesperadamente encontrar o dela que eu poderia dizer que não foi por querer que olhei para ela.
"E se eu disser que eu acho que eu estou amando?" ela me perguntou, pensei de novo, é, também acho que estou amando, não, mais uma vez outras palavras falhadas saíram da minha boca "Quem?" "Você!".
Aquilo me veio como um soco no estômago, eu não sabia se ficava feliz ou triste, se era certo ou errado, se eu também estava amando ela, fiquei confusa, meus pensamentos se perderam, meus sentidos sumiram, meu corpo esquentou, ela ali tão perto, com um olhar que parecia suplicar por alguma palavra, algum gesto, alguma ação, não consegui, continuei ali do seu lado, paralisada, anestesiada, confusa.
Seus olhos se aproximavam cada vez mais, ela colocou a mão na minha nuca, fechei meus olhos, senti seu rosto chegando cada vez mais perto do meu. "Diga que você também quer" ela sussurrou com a boca quase colada na minha. Abri meus olhos, os dela que estavam fechados agora. "Quero", ela sorriu antes de me beijar.
Meu coração parecia querer sair de mim, batia rápido, forte. Ela colou seu corpo no meu e eu amoleci inteira.
Eu que sempre me considerei tão forte, que nunca liguei para sentimentos estava ali, sem reação ao lado da pessoa com a qual comecei a sonhar todo o meu futuro.
Ela devagar desencostou a boca dela da minha, abri meus olhos, os dela ainda estavam fechados, nos seus lábios vermelhos um sorriso, que eu guardaria para sempre.
Tinha se passado cerca de uma semana do nosso primeiro beijo quando ela me convidou para ir na casa dela. Eu fui.
Chegando lá percebi que não havia mais ninguém em casa, ela me ofereceu algo para comer, recusei, no centro da mesa de jantar havia uma cesta com frutas que pareciam frescas em cima de uma toalha de crochê, ela pegou na minha mão e me puxou correndo para o quarto dela.
Entramos, ela fechou a porta e me puxou, me beijando com uma paixão ardente, podia sentir seu corpo clamando pelo meu. Tirou a minha blusa e abriu meu sutiã, abri o zíper da minha calça, esperando que ela viesse.
Ao terminar de tirar a minha roupa ela parou e ficou me olhando um tempo, a puxei e a beijei. A mão dela acariciava meu corpo com firmeza, eu estava quente, ofegante, precisava daquilo.
Sua mão finalmente encontrou a parte mais quente do meu corpo, já molhada. Ela me acariciava e eu entrei em êxtase.
No outro dia ela me beijou pela primeira vez na frente das outras pessoas, senti uma certa vergonha, mas ao mesmo tempo me senti livre, algumas pessoas nos olhavam torto, mas nós não ligávamos.
Naquela noite ela tinha um aniversário de uma prima e ia sair antes, sem me esperar. Não me importei, estava bem feliz aquele dia.
Eu fiquei um tempo a mais na sala, tirando algumas dúvidas com o professor.
Ao sair coloquei os fones de ouvido, estava ouvindo uma música que me lembrava ela.
Quando estava na metade da rua, indo para o ponto de ônibus, apareceram dois carros em alta velocidade, eu tentei correr, não deu tempo, o carro branco me acertou, quando cai no asfalto fechei meus olhos e vi aquele sorriso, o sorriso mais lindo do mundo, que ganhei fazia uma semana. Não lembro de mais nada, nem sei como cheguei aqui, mas agora eu estou sentada ao seu lado na cama, vejo seus olhos cheios de lágrimas. Quero lhe falar que está tudo bem, que não tem mais nada doendo e que eu estou aqui do lado dela, mas eu não posso falar e sei que ela não poderia me escutar.
Me arrependo por nunca ter dito isso para ela enquanto pude, talvez ela saiba que eu vou estar perto dela até que ela consiga encontrar outro motivo para sorrir, mas ela está tão triste agora que acho que ela esqueceu. Queria que ela pudesse ouvir pela última vez o meu "te amo", porque mesmo aqui, eu continuo a amando.

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